sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Apelo ao voto IV

Poderá votar hoje, entre as 17h e as 22h nas duas Secções de Voto de Lisboa e Porto.

VOTE

Só os votos por correspondência entrados até às 19h do dia 28 de Fevereiro e que cumpram as instruções enviadas a todos os membros com direito de voto serão considerados válidos.

Os membros podem, atempadamente, verificar se reúnem as condições para votar, ou seja, se constam nos cadernos eleitorais, fechados à data de 31 de Julho de 2007. Os cadernos eleitorais podem ser consultados, directamente ou via telefone, nas secretarias das Secções Regionais Norte e Sul, de acordo com a inscrição do membro.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Conversa falada sobre a OA - Manuel Vicente

Uma Ordem mais atenta às necessidades dos associados

O primeiro ponto é fixar que a Ordem deve servir para “alguma coisa”: na nossa perspectiva é bastante claro que deve ser uma entidade capaz de fornecer serviços aos seus associados. A evolução “legalista” e burocrática do exercício da profissão exige que a Ordem possa funcionar como uma espécie de plataforma de apoio. Por exemplo, as solicitações de seguros e garantias bancárias inibem muitas vezes a participação de ateliers de menor dimensão em concursos. E não falamos somente de apoios aos mais jovens, mas também de arquitectos que possuem estruturas profissionais menos competitivas. A Ordem poderia ser aqui mais actuante, servindo de intermediária, negociando com os universos financeiro e segurador de forma a encontrar modelos ajustados à prática da profissão; poderia também ser intermediária de empréstimos bancários prestados a novos ateliers ou ao estabelecimentos de novos locais de trabalho.

Descentralização

A Ordem deve trabalhar directamente com as Associações de Municípios que são estruturas mais orgânicas que a estrutura administrativa do território. Estas associações têm uma visão mais clara das realidades locais, possuem independência de acção, estão receptivas a contactos informais, parcerias, protocolos, convénios que muitas vezes não passam pela burocracia estatal. Há nestes universos mais locais, sinergias que passam pelas relações pessoais, reflectindo-se em relações mais transparentes que aproximam as pessoas e as práticas: relacionando as necessidades reais do campo da prática profissional.

Devemos tornar a organização da Ordem uma entidade menos longínqua e menos abstracta para os associados e para a sociedade, transformando-a numa coisa mais concreta, com “cara”. Neste contexto, é importante aproveitar as sinergias de quem dá “a cara” e aqui falamos obviamente dos Núcleos. Pensamos que deverão ser feitas alterações na Ordem a nível estatutário que reformem a estrutura actual.

Não faz sentido existir apenas duas organizações regionais – e penso mesmo, correndo o risco de ser polémico, que deveriam sair dos núcleos as direcções das delegações regionais. É necessário olhar para o país e para o que “resta” da regionalização e perceber que todas essas regiões (novas) necessitam de uma delegação. É despropositado que a gestão administrativa da Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos, por exemplo, compreenda o Algarve, e menos ainda, os Açores e a Madeira.

Formação Contínua

A Ordem dos Arquitectos tem investido na promoção cultural de uma forma que as outras Ordens – caso dos Advogados ou dos Médicos, por exemplo – não fazem. A preocupação maior que a Ordem deveria ter, aquela que imagino como mais progressiva e futurante, é a que toca na questão fundamental da formação contínua. É importante estabelecer protocolos com as universidades para garantir horários pós laborais para actos de formação continua, ultrapassado desta forma o sentido um pouco amador que parece enquadrar este serviço. A profissionalização da formação contínua é um passo essencial.

Outro aspecto importante prende-se com a existência de formações que são transdisciplinares e que se podem articular com outras ordens profissionais. A formação contínua deve ser próxima das necessidades da prática, articulando todos os intervenientes no processo de edificação.

Uma coisa que parece interessante é, por exemplo, perceber o sentido do estatuto da Ordem dos Advogados que impede um advogado de empregar outro advogado, levando assim à criação de associações de advogados. Acho bastante positivo que se caminhasse nesta direcção também entra a classe dos arquitectos e que, progressivamente, existissem sociedades de arquitectos porque os problemas da autoria, da responsabilidade profissional, ficariam mais clarificados.

Criatividade

Portugal tem vivido recentemente dinâmicas de integralismo em todos os sectores da sociedade – há um nivelamento, um denominador comum que, em parte, justifica a falta aparente de criatividade que a nossa sociedade apresenta. Há alguns casos – jovens maioritariamente – que conseguem fugir a este modo de estar, ou de ser, e que são aquelas pessoas que inventam coisas e avançam. É engraçado ver que essa gente vem de profissões com alguma marginalidade: não cresceram integradas em sistemas de carreira ou de visibilidade profissional e, talvez por isso, acabam por ser o único sector criativo da sociedade portuguesa.

Gerações

Sinto por vezes que faço parte de uma espécie em vias de extinção e esta é uma das razões que também me motiva a concorrer a Presidente da Ordem. Porque acho que há um testemunho a passar e que a nossa geração ainda pode fazer a ponte entre toda a rica tradição da arquitectura como elemento transformador, por via artística, da sociedade, dos estilos, dos gostos, das percepções do corpo, do enriquecimento do quotidiano e da construção de significado… O que parece importante é não deixar que tudo desapareça sem existir uma alternativa que vanha a pena – porque aqui não é exactamente uma questão de transformação, mas uma questão de desaparecimento.

Opinião - Blogosfera

Opinião - Alexandra Campos

Queridos amigos,

Amanhã há eleições na Ordem dos Arquitectos. Apelo ao voto com espírito crítico, inteligente e contestatário numa Lista que tenha um programa com soluções inovadoras e pertinentes, que promova o nosso código deontológico na prática profissional de todos os arquitectos e entidades envolvidas nessa actividade.

Amanhã vou votar na Lista C, que tem o arq.tº Manuel Vicente como candidato a presidente.


Alexandra Campos

Opinião - Avelino Oliveira

A Ordem dos Arquitectos

Acredito nos pressupostos de quem se propõe fazer coisas óbvias de forma simples.

Estou convicto que a Ordem dos Arquitectos deve ser a plataforma de apoio e regulação do exercício da profissão.

Prefiro uma Ordem direccionada para a profissão, numa estratégia assumida de representação de todos os arquitectos e da sua actividade profissional.

Uma Ordem que se preocupe igualmente com o trabalho transversal da profissão, no projecto, na obra, nas empresas, nos organismos públicos, etc.

Uma Ordem que se convença que o “atelier”, sendo um denominador comum de todos os arquitectos, já não é, hoje, o único local de exercício profissional da maioria.

Uma Ordem que não crie obstáculos aos novos profissionais. E além de suprimir esses obstáculos, que não seja conivente no aproveitamento indigno da mão-de-obra dos jovens licenciados.

Uma Ordem em que os arquitectos se sintam defendidos por igual e representados por todos, sem “corporativismos”, mas também sem a ingenuidade que tem sido habitual no seio da profissão.

Uma Ordem menos atreita a vedetismos e mais disponível a promover o associativismo e a solidariedade.

Finalmente, reconheço no Manuel Vicente a experiência e a juventude para incentivar este processo.

Reconheço-lhe a humildade e coragem para assumir com frontalidade as causas que importam.


Avelino Oliveira
(candidato ao Conselho Nacional de Delegados)

Opinião - Bernardo Campos Pereira

Trabalhei uns curtos meses no atelier do Manuel Vicente, e ficou-me bem vincado a sua capacidade de trabalho de equipe, a sua incessante procura, e sobretudo a sua abertura para encontrar soluções interessantes e por vezes fora do comum nos projectos. Pelo programa apresentado pela Lista C, pela sua organização e iniciativas, bem como a equipe diversificada que apresenta acredito que todos podemos participar e beneficiar deste entusiasmo e abertura de mente. Parece-me uma opção que poderá ajudar a estabelecer o papel dos arquitectos e da disciplina junto do país real.

Bernardo Campos Pereira

Opinião - Pedro Gadanho

Onde param os arquitectos portugueses?

Agora que se repetem as eleições para a Direcção Nacional da Ordem dos Arquitectos, é porventura importante perguntar onde tem parado os arquitectos portugueses nos tempos mais recentes.

Quando há 10 minutos atrás se abateu o silêncio ensurdecedor sobre o facto do primeiro-ministro português assumir a autoria do que podem ser considerados crime estéticos e uma aberração cultural, pareceria lógico perguntar onde param os arquitectos portugueses.

Agora também urge perguntar onde eles param quando, numa espécie de projecção suicida das tendências vigentes entre a população portuguesa, é esperada uma participação de cerca de 15% nas eleições para a Ordem dos Arquitectos.

Falta de auto-estima da classe profissional? Falta de opções? Ou pura falta de interesse? Alguma coisa está certamente em falta.

Face a outras classes profissionais liberais que disputam árdua e publicamente aqueles que vão representar os seus destinos, os arquitectos portugueses espelham bem o estado corrente do país.

Não é de admirar que exista um absentismo absoluto. Com a explosão "democrática" dos cursos de arquitectura, os arquitectos deste país são hoje uma perfeita amostra demográfica do país que temos. E ainda bem.

Porém, o que é eventualmente mais grave é que, apesar da sua formação superior, os arquitectos podem, assim, estar a ecoar a cultura cívica - ou a crise social de que falava a Sedes - com que hoje contamos em Portugal.

Comecemos pela crise.

Não é de excluir a hipótese de que o absentismo eleitoral dos arquitectos se explica por razões bastante prosaicas.

A maior parte dos arquitectos, nomeadamente os mais jovens e desfavorecidos da classe não votam porque... não pagaram as quotas!

E porque é que não pagaram as quotas? Porque estão desempregados ou porque são tão mal remunerados que tem naturalmente que remediar outras necessidades mais básicas. Interessante, não é?

Isto sugere imediatamente que, se estão verdadeiramente interessados na participação eleitoral, os candidatos aos órgãos nacionais da Ordem dos Arquitectos deviam acordar um pacto de regime súbito: uma amnistia - ou, ecoando a extraordinária flexibilidade legislativa portuguesa, uma alteração estatutária temporária - para permitir que todos votassem nestas eleições.

Adiante. Subsistem ainda algumas outras possibilidades para justificar o absentismo geral dos arquitectos.

Também é verdade que muitos dos 16.000 arquitectos a que me refiro estão no estrangeiro. Face a uma tendência autofágica da classe arquitectónica portuguesa - que também lembra outra coisa qualquer - muitos dos arquitectos recentemente formados decidiram, pura e simplesmente, emigrar.

Isto é, o investimento e a permissividade do Estado na formação superior desta classe traduz-se, como já acontecia com cientistas e outras especializações de ponta, em exportação de cérebros ou de mão de obra competente, enquanto por aqui nos vamos lamuriando de desordenamento do território. Interessante, não é?

Esta é, aliás, uma resposta à questão que dá título a este artigo que combina perfeitamente com o equívoco ético e estético que recentemente envolveu o engenheiro civil José Sócrates.

De facto, para quê pagar o custo dos serviços, dos recursos humanos e da competência técnica nas quais o Estado investiu os impostos dos contribuintes, se ainda há por aí uns chico-espertos que dão conta do recado e da paisagem?

Os chico-espertos - que às vezes até são arquitectos pois, afinal, eles também "andem aí..." - saem mais barato, têm uns contactos na Câmara local que "facilitam a coisa" e até foram os primeiros a perceber que mais vale fazer o gosto ao dedo do cliente, que isto não está para modas.

Mas, perguntar-se-á então, a arquitectura não estava na moda?

Depois da celebração e da celebridade de Siza Vieira e de Eduardo Souto Moura, os arquitectos não deveriam andar por aí felizes da vida?

Não adquiriram prestígio social e profissional?

Não obtiveram reconhecimento no "estrangeiro"?

Não tiveram, nos últimos 15 anos, maior exposição mediática interna do que médicos, advogados e engenheiros?

Tendo eu realizado um doutoramento sobre a visibilidade da arquitectura em meios generalistas como o jornal O Público, posso assegurar que todas estas hipóteses são sustentadas e confirmadas por dados objectivos. À excepção, claro, da parte da felicidade.

Curiosamente, em Portugal, a celebridade, a projecção e o prestígio não fertilizaram o campo. Deve ser uma característica endógena. Ou o facto de, apesar das aparências, sermos um país estruturalmente pobre.

As circunstâncias mudam e as conjunturas também e, depois de uma prolongada ascensão demográfica e mediática, os arquitectos portugueses parecem, de novo, ter desaparecido para parte incerta.

Apesar das campanhas do "direito à arquitectura" - já agora, algum não arquitecto ouviu falar disto? - os portugueses ainda não parecem estar dispostos a pagar a mais-valia do serviço arquitectónico.

Isto também justifica a ausência dos arquitectos.

E donde vem o problema? Será que os portugueses não valorizam ou não podem valorizar a sua qualidade de vida ao nível de outros países europeus? Será que não podem, pura e simplesmente, pagar os serviços de um arquitecto preferindo assim entregar-se assim às competências dos chico-espertos? Será que têm de facto a sua própria cultura de gosto e preferem decidir por si? Ou será que a tabela de honorários dos arquitectos é desadequada à realidade do país? Ou serão as regras de mercado que estão a distorcer a oferta e a procura? Ou acontecerá, afinal, simplesmente, que os arquitectos deviam ser pagos por área a edificar e respectivo preço médio oficial de construção em vez de auferirem remunerações que flutuam com o preço final de obra - assim se acabando com muitos jogos de bastidores que prejudicam clientes e destinatários e assim se esvaziando também as distorções deontológicas que fazem com que seja um contrasenso económico para o arquitecto invistir tempo e recursos na redução de custos de obra do seu cliente?

Das mais gerais às mais prosaicas, estas, como muitas outras, são questões que justificam uma tomada de consciência e de posição dos arquitectos e dos seus legítimos representantes face à imagem que projectam de si próprios enquanto classe profissional.

Dado o contexto particular da nossa auto-proclamada "West Coast," talvez os portugueses ainda não tenham percebido, de facto, qual o papel que a arquitectura pode desempenhar no seu dia-a-dia e na sua qualidade de vida colectiva.

Afinal, a maioria dos portugueses só sabem de longe da vã gloria dos centros culturais desenhados por arquitectos de "qualidade arquitectónica reconhecida" que, entretanto, tem as suas portas encerradas por faltas de verbas, programas e atractivos. E alguns mais iluminados só sabem que se tiverem dinheiro para investir em condomínios privados de luxo é bom que haja um "arquitecto de renome" envolvido.

Visto que assim já sabemos onde param os portugueses, onde param, entretanto, os arquitectos portugueses?

Onde param os candidatos a estas eleições da Ordem dos Arquitectos, esses que devíamos estar a ver e ouvir nos media de massa a exporem os seus programas, as suas opiniões públicas, as suas posições, as suas diferenças, as suas reflexões e proposições sobre o estado da prática da arquitectura em Portugal?

Onde param, neste preciso momento, as luminárias da arquitectura portuguesa, essas que prometeram mais intervenção crítica e social?

Onde param os críticos de arquitectura e os formadores de opinião, esses que, neste preciso momento, deviam estar a contrapor visões e perspectivas sobre o que precisa de mudar nos consensos excessivos em torno das vias únicas que actualmente caracterizam a arquitectura portuguesa?

E, para além dos emigrados, dos desenrascas e dos dignos representantes da geração rasca, onde param esses " "jovens arquitectos" que constituem a maior parte dos arquitectos inscritos na Ordem e que agora se remetem, como é sua condição geracional mais vasta, a um silêncio comprometido com o status quo?

Por este andar, onde vão parar os arquitectos portugueses?


Pedro Gadanho, arquitecto

(este artigo foi também publicado hoje no Público)

Lista C no "Meia Hora"

"O objectivo da minha lista é aproximar a Ordem dos Arquitectos dos seus associados."
Jornal gratuito Meia Hora, 27/02/2008

(clicar na imagem para a ampliar)

Opinião - Pedro Abranches Vasconcelos

Partilhamos todos nós, Arquitectos, quando pagamos cotas (ou quotas) um pouco da riqueza que produzimos com a "nossa" Ordem.

É uma partilha forçada, obigatória, da qual depende o exercício da nossa profissão.

A Ordem fica assim mais rica meio milhão de contos (2.500.000,00 euros na moeda nova) por cada ano que passa.

É imenso dinheiro – são 20 Porsches – e é muito pouco o que, à troca, recebemos.

Duvido muito que algum de nós, Arquitecto, que vive da sua profissão, considere bem empregue este dinheiro.

No recente debate que houve no Porto coloquei apenas uma questão – seria assim tão grave para os Arquitectos o desaparecimento da sua Ordem?

Colocada esta questão a referendo interno, tenho poucas dúvidas sobre qual seria a resposta.

Esgotado o actual modelo de gestão da Ordem penso existirem só 2 saídas:

- tornar a ordem numa sociedade recreativa limitada à organização de festas, preferencialmente em horário pós-laboral (20 Porsches serão mais do que suficientes para isto);

- tornar a ordem numa organização dedicada apenas ao apoio à actividade profissional dos seus membros (não seriam precisos, com certeza, mais do
que 10 Porsches).

Antes de pensar em percorrer o primeiro caminho (por mais tentador que possa ser) preferiria experimentar o segundo.

Não me parece difícil que o possamos fazer, pondo a Ordem a fazer apenas aquilo que cada um dos seus membros não consegue fazer sózinho.

Impugnar concursos públicos ou adjudicações directas ilegais é apenas um dos exemplos do que a Ordem pode (deve) fazer e nunca fez.

Há quem se esqueça que a Ordem se chama "dos Arquitectos" e não "da Arquitectura".

Sei que o Manuel Vicente, que tal como eu prefere beber água directamente pela garrafa dispensando o copo, não se esquecerá nunca disto.

O Manuel é um pouco como a teca: dispensa verniz - material que, como vimos no debate do Porto, estala com facilidade.

Prefiro a sua "elegância" à "beleza", que alguns dizem acreditar poder mover o mundo.



Pedro Abranches Vasconcelos
(candidato a vogal no Conselho Directivo Nacional)

Debate na RTPN (23 de Fevereiro)



Opinião - Blogosfera

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Opinião - Pedro Homem de Gouveia

Promessas, leva-as o vento

Já tornei públicas, há bastante tempo, as minhas ideias sobre a Ordem.

Considero que o apoio à prática deve ser a prioridade, e que é por aqui que a Ordem pode de facto prestigiar a profissão e recuperar a credibilidade que perdeu junto dos seus membros.

Considero que a formação contínua é um dever da Ordem para com a sociedade e um direito dos seus membros, e que não pode a Ordem continuar a organizá-la apenas em Lisboa, e a vê-la sobretudo como fonte de lucro.

Considero que em matéria de disciplina a Ordem deve ter uma intervenção ao mesmo tempo preventiva e pró-activa. Preventiva – fazendo tudo o que estiver ao seu alcance para proporcionar aos seus membros condições para que estes cumpram com as suas obrigações. Pró-activa – não esperando pelas queixas, e sobretudo não calando os protestos que se impõem só para não deixar de receber apoios do Estado. A Ordem tem uma fonte de receita segura – as quotas dos membros. Não tem desculpa para estar calada.

Considero que relativamente aos concursos a Ordem deve assumir, de uma vez por todas, que a igualdade de oportunidades no acesso à encomenda pública é um dever do Estado e um direito dos profissionais. E tem de dizê-lo de forma clara, sem ambiguidades, todos os dias – mesmo que isso prejudique os interesses individuais de alguns dos seus membros.

Considero que a Ordem não pode assobiar para o lado no que toca a honorários, e que apesar das limitações impostas pela legislação europeia, há um importante contributo a dar.

Considero que nas actuais condições, os estagiários estão a ser forçados a cumprir um “serviço militar obrigatório” que não garante nada, e que só beneficia quem já está instalado e pode beneficiar do seu trabalho gratuito. Pode não ser clara, ainda, a solução – mas é claro o problema, e a Ordem deve começar por reconhecê-lo.

Considero que a descentralização é um imperativo para a Ordem, e que essa descentralização deve ser o mais profunda possível, pode passar pela criação de novas secções regionais, e deve ser conduzida, principalmente, pelas delegações e núcleos já existentes.

Estas opiniões podem não coincidir em tudo com as do Manuel Vicente e da restante Lista C, que integro.

Isso não me preocupa – olho para as restantes listas, leio os folhetos, e vejo a mesma ambiguidade e conversa redonda que já vi noutras eleições.

Precisamos de clarificação. Mas não é de clarificação relativamente a chapeladas eleitorais – essa, já a deu o Tribunal.

Precisamos de clarificação relativamente a prioridades.

Porque na hora da verdade sabemos que quem estiver na Ordem vai ter de escolher entre contratar técnicos para melhorar o apoio à prática… ou para fazer a Trienal.

Entre pagar as deslocações à Madeira e Açores de membros do Conselho de Disciplina, para audições, ou as deslocações a Lisboa de estrelas, para conferências…. na Trienal.

Entre realizar acções de formação descentralizadas pelo País, a baixo custo, ou montar de exposições em Lisboa… para a Trienal.

Entre tomar posições públicas claras contra câmaras que não fazem concursos, violam PDM’s, perseguem arquitectos, ou fazer de conta que não se passa nada, para que subsidiem… a Trienal.

Fazer programas muito estruturados, com muitas medidas, tem o seu interesse, mas um alcance limitado. Já ajudei a fazer um – e depois vi como, na hora da verdade, foi esquecido. Bastou haver alguém a acenar com uns brilhos, a tocar uma flauta, e seguiram todos atrás. Promessas, leva-as o vento.

Princípios claros e escolhas concretas, precisam-se. Não acredito em programas que prometem o sol na eira e a chuva no nabal.


Pedro Homem de Gouveia
(8039 S)
(candidato a vogal do Conselho Directivo Nacional)

Opinião - Paulo Pais

Conectar-se à rede, votar C.

Esta candidatura, protagonizada pelo Manuel Vicente, constitui um traço de esperança, um grito de inconformismo, uma pincelada de cor numa paisagem cinzenta, dominada pela crise de representação dos arquitectos na sua organização profissional, por uma incerteza sobre o futuro do território da Arquitectura.

Para muitos arquitectos a Ordem é vista como mais uma instituição do Estado; um guiché por onde é necessário passar para se ver reconhecido o título profissional. Para esse afastamento tem concorrido a tradicional disputa entre dois grupos distintos que mobilizam os respectivos peões no controlo do centro do tabuleiro do poder na Ordem.

Os representantes do “Star System” olham para a Ordem como máquina de promoção pessoal e de projecção de carreiras, sobre o pretexto de uma pretensa actividade cultural.

O segundo grupo é constituído pelos representantes dos Ateliers com estrutura empresarial. Caracterizam-se por apresentar um discurso político mais estruturado e visam, sempre, em nome de um dito “interesse do consumidor”, a imposição de regulamentação do mercado profissional que, na prática, torna o acesso à encomenda quase impossível aos pequenos ateliers e, consequentemente, a quem chega de novo à profissão.

Essa tradicional disputa de influência tem contribuído para asfixiar o debate democrático na Ordem dos Arquitectos e a respectiva projecção na Sociedade Portuguesa.

A candidatura da Lista C representa um esforço de recentrar a atenção sobre os temas essenciais, em jogo nestas eleições: a credibilização da Ordem e a consequente afirmação pública do Direito à Arquitectura.

A credibilização da Ordem passa, em primeiro lugar, pelo reforço do seu vínculo com os associados, reforçando os espaços de participação, o apoio à prática profissional e uma atenção redobrada à pluralidade de modos de exercício.

Em segundo lugar, a credibilização da Ordem depende da sua aproximação às diversas realidades locais e regionais, através de uma política efectiva de descentralização, no sentido de promover a equidade no apoio prática profissional, na promoção do debate sobre as opções de ordenamento e desenvolvimento territorial, e numa afirmação da Arquitectura enquanto recurso cultural de afirmação de identidade.


Paulo Prazeres Pais
(candidato ao Conselho Nacional de Delegados pela lista C)

Opinião - Pedro Belo Ravara

Descobri hoje um texto que me pediram há já tempos idos sobre o MV, o qual se mantém actual. Penso que o posso usar agora, até porque nunca o foi para qualquer outra coisa.

Reproduzo:

No meu segundo dia no Atelier MV, em Macau, ainda em contactos preliminares com os desenhos, maquetas, esquiços e ideias que esvoaçavam nas células/salas contíguas e contínuas que formavam o atelier da Rua do Volong, acompanhei o arquitecto Manuel Vicente a uma reunião no Instituto de Acção Social de Macau (IASM), hoje penso extinto ou com nome diferente, onde se iria debater a continuação do projecto da 2ª fase do FAT CHI KEI, ganho por concurso público pelo Manuel Vicente, e até aí com fase de Estudo Prévio concluída e entregue. O arquitecto MV partia na semana seguinte para Lisboa, eu tinha acabado de chegar, adivinhava-se o arranque imediato da fase seguinte deste projecto com a entrega do respectivo relatório do IASM. Passou-se em princípios de Novembro de 1988, com a minha licenciatura ainda fresca e diploma datado de Julho desse mesmo ano. Nessa reunião, foi-nos lido o relatório do corpo técnico do IASM sobre o Estudo Prévio desenvolvido a partir da fase inicial ganhadora do concurso. O relatório consistia de uma lista quase infindável de alterações, que derivavam de modificações ao programa inicial, alterações morfológicas, opiniões divergentes, etc., não percebendo nós nunca da sua extensão ou fim, porquanto não seria o arquitecto MV lhe ter posto um fim ao interromper com, mais ou menos, a seguinte frase "Meus senhores, nós vamo-nos, a partir de agora os contactos serão dirigidos ao meu advogado."

A minha experiência profissional resumia-se a participações ao nível do desenho e representação do projecto e, pontualmente, o acompanhamento de alguma obra de interiores. Pedia-me agora o arquitecto MV que liderasse processos de projecto na(s) sua(s) ausência(s) de Macau, que envolviam não só responsabilidades de projecto para escalas e competências nunca até então por mim experimentadas, como as responsabilidades de gerir "batalhas" e "conflitos" que normalmente estes projectos geram pela sua intervenção multi-politica. O projecto do FAT CHI KEI acabou por correr normalmente atendendo às trocas de secretários-adjuntos, directores de serviço e técnicos que acarretavam também trocas de "estratégias" (nunca muito claras) e tempos para as levar a bom termo. Foi o desafio dos três anos que se seguiram, não só relativamente a este projecto mas a todos os que fui sendo envolvido, desenvolvendo um rigor da regra que caracterizava, diferentemente, cada um deles, que me "formou" na via profissional, não só de um ponto de vista da sua competência técnica, mas também, e sobretudo, da sua competência ética.

Dos projectos em que colaborei activamente (convicto e alegremente) integrado na equipa do MV em Macau, contam-se, além do FAT CHI KEI, o WTC, os primeiros estudos da Universidade da Ásia Oriental e Bombeiros da Areia Preta, os edifícios da Horta e Costa e, a encomenda que ocuparia o atelier durante todo o ano de 1990, os planos de urbanismo, pormenor e alguns de arquitectura, para o Fecho da Baía da Praia Grande. Estes planos haveriam de mudar a face de Macau nos anos posteriores dotando-a de uma nova contemporaneidade, ainda não totalmente visível ou decifrável. No entanto esta alteração começou desde a primeira altura em que MV chegou ao território, o visitou e decidiu desenhar sobre o seu futuro. Os planos, edifícios, recuperações e interiores que acrescentou à cidade de Macau desde os anos sessenta, desde sempre que ambicionavam a um profundo sentido do espaço social reinterpretado especificamente para Macau e sobre as vivências de Macau, por um lado, e um outro sentido mais reconhecível genealogicamente, mais universalista também, de entender o acto do projecto como a descoberta da regra de uma forma exaustiva, talvez como o teria feito (e daí a genealogia), o arquitecto Frank Loyd Wrigth, o Louis Kahn ou o Carlo Scarpa.

Enquanto permaneci projectista ao lado de MV, percebi e colaborei no desenho dos seus projectos como o seu braço direito o faria, aprendi a contornar e a controlar a regra, a desistir de uma opção por se tornar incongruente e a voltar ao princípio com o enriquecimento do reiniciar, tornei meu o seu método exaustivo, porque exaustiva é a profissão do arquitecto Manuel Vicente.

A amizade e interesses comuns à arquitectura unem-nos hoje, já não em volta das partilhas vividas na invenção dos seus projectos, buscas operadas no tempo da memória e no tempo físico, noites claras na descoberta de regras lançadas, pontos coincidentes de malhas tetraédricas, formas emergentes de vontades geometrizadas à regra inicial, profecias sobre uma geometria lançada como a equação para todas as variáveis, até que por fim, a igualamos a zero, mas na certeza porém que vale ainda a pena lutar por uma prática profissional que se tem dissipado.

Hoje, como ontem continuo a acreditar na prática da arquitectura como a garantia da independência do arquitecto, porque só pela sua prática ele poderá exprimir toda a tradição cultural e artística que nos distingue de outras práticas mais corporativas ou comerciais. A Ordem terá de se centrar sobre essa mesma prática, aberta aos seus membros (a todos), recusando a promoção da arquitectura apenas enquanto seu objecto resultante.

Pedro Belo Ravara
(candidato ao Conselho Nacional de Delegados pela lista C)

Opinião - José Bruschy (2)

Como resposta ao comentário que, justamente, me acusou de não ter desenvolvido mais o raciocínio sobre “Responsabilidade e Autoria”, aqui vão mais algumas ideias que gostaria de partilhar.

( Responsabilidade e Autoria I )

Responsabilidade e Autoria II

. A procura de um profissional pelos “conhecimentos ou capacidade” que este tem de conseguir uma aprovação rápida e garantida na Câmara A ou B, situação divulgada frequentemente na comunicação social, tem-se agravado ultimamente de forma preocupante. A troca de assinaturas e de projectos é cada vez mais uma prática de amadores, principiantes e do passado, sendo hoje considerada, pelos seus protagonistas, pouco compensatória e produtiva.

É mais simples, dá menos trabalho, é mais rápido e rende mais, trabalhar em rede. Isto é: por sistema, com as interpretações mais fantásticas dos regulamentos de construção e das normas dos PDM nunca se aprova um projecto à 1ª tentativa. Se o arquitecto projectista e o requerente seu cliente são persistentes, sugerem-se uma série de alterações que, invariavelmente, pioram o projecto e o tornam, por isso, menos rentável. Passados meses, em geral muitos, o arquitecto projectista e o requerente voltam à Câmara para apresentar ao seu “colega” o projecto alterado conforme as indicações dadas pelo próprio meses atrás.

Com espanto é-lhes dito que não era nada daquilo que lhes tinha sido sugerido. Quando se confronta o “colega” com os desenhos alterados à sua frente na reunião anterior, a resposta vem pronta e segura: “Não me lembro. Foi há muitos meses e desde essa reunião já tive dezenas doutras. Não me posso lembrar de tudo!”

Estas situações repetem-se por meses e anos, levando muitas vezes o requerente a desistir da sua pretensão e, em desespero de causa, pôr o seu terreno à venda, pagando, (quando paga), metade da prestação dos honorários correspondente à fase de licenciamento ao seu arquitecto.

Isto é o que acontece ao requerente e ao seu arquitecto.

O que acontece ao “colega”? Quando tem conhecimento da venda da propriedade e do arquivamento do processo, vai à sua rede e informa um qualquer dos seus “promotores/ construtores”, (conhecidos e de confiança), de que o terreno está à venda por um preço x, porque a aprovação do projecto para o seu aproveitamento é problemático e o índice de construção insuficiente para viabilizar o investimento. No entanto se Sr. for ter com o Sr. Arq. B este far-lhe-á um projecto que lhe garante uma aprovação rápida e um aproveitamento máximo (muitas vezes o dobro da área permitida ao proprietário inicial e ao seu arquitecto). Mas claro, por esta informação e como é habitual, caso o “negócio” lhe interesse ou possa interessar a um seu amigo, eu receberei, sem recibo ou factura; como é timbre da n/a “rede” uma comissão de ....(?). Depois o “colega” procura o Arq. B e diz-lhe: “Há um projecto assim e assim para fazer para o meu cliente Z. Tem que ser feito rapidamente. Por isso vais-lhe cobrar uns honorários ‘normais + taxa de urgência e aproveitamento maximizado’. Como é costume entre nós, essa taxa de aproveitamento maximizado é para mim embora o seu valor seja integrado na tua factura recibo!”

Esta é a situação, real e demasiadamente generalizada, que resulta directamente da aplicação cega e irresponsável de uma lei, hoje e há muito tempo, completamente hipócrita no seu cumprimento, e nefasta nos seus resultados.

Mas porque motivo continua em vigor uma disposição legal que, impede que um técnico de uma Câmara assine projectos para a área do respectivo Concelho? Parece simples de perceber que o motivo baseia-se no facto de não ser eticamente aceitável que um técnico aprecia e aprove um projecto de que seja autor. Parece… Mas a sua génese não foi exactamente esta, e é mesmo muito anterior à própria existência de projectos para as Câmaras apreciarem.

Remonta aos tempos medievais em que quase todo o comércio se processava em Feiras e Mercados (que deram origem aos dias da semana em português serem designados por 2ª, 3ª, 4ª, 5ª e 6ª feira uma originalidade mundial!). Estas feiras eram “fiscalizadas” por importantes funcionários municipais que tinham por principal missão “aferir” da exactidão das balanças e das pesagens efectuadas pelos feirantes. Por ser esta a sua missão e pela importância fundamental desta função, além de terem de revelar reconhecidos dotes de inteligência e honestidade, não podiam ser parentes, até um determinado grau de parentesco, de nenhum comerciante ou feirante com banca ou lugar em qualquer feira ou mercado do município.

Esta será porventura a única razão – o seu valor histórico – para que nos séculos XX e XXI uma lei derivada desta pratica ainda subsista, sem incomodar, parece, quase ninguém.

Esta, ou qualquer lei, deve ser mantida, modificada ou anulada conforme da sua aplicação resultem para a sociedade mais benefícios que malefícios ou prejuízos.

Mesmo sabendo-se que em Portugal “proibir” é, por um lado, a aspiração máxima de qualquer legislador, governante, fiscal ou polícia e, por outro lado, transgredir o proibido é o desafio e divertimento máximo de todo e qualquer português que se preze, tentemos analisar objectivamente o que se tem passado com a “aplicação”(?) pratica desta lei e com a sua “evolução”.

Como se sabe e já anteriormente se referiu, o Arq. A da Câmara X não podendo “assinar” o seu projecto para este município pede ao seu amigo, colega ou sócio (ou tudo junto), Arqt. B, que trabalha na Câmara Y, que lhe assine o seu projecto.

Este arquitecto não tem que, publica ou privadamente, assumir qualquer responsabilidade pelo projecto do Arq. A. Este último, pelas funções que exerce, acaba muito natural e calmamente por deferir ou indeferir o projecto da sua própria autoria. Só que não há conhecimento de que, nestas circunstâncias, jamais, algum projecto tenha sido indeferido ou demorado anos a ser aprovado.

Se esta lei não existisse o Sr. Arq. A, até para evoluir e poder exercer a profissão da sua escolha e vocação, poderia, sob determinadas condições, fazer projectos para o Concelho em que trabalha e muitas vezes reside, não tendo de projectar para terras mais ou menos distantes onde não é conhecido e portanto só por acaso terá clientes.

E o que faz ou tem feito a Ordem para normalizar, e contrariar este estado de coisas?

Nada ou quase nada. Pelo menos que se veja.


José Bruschy

Membro nº270 OA
(candidato a Presidente do Conselho Nacional de Disciplina)

Campanha: hoje, ontem e amanhã

Ao logo do dia de hoje, leia a opinião de:
  1. José Bruschy
  2. Pedro Ravara
  3. Paulo Pais
  4. Pedro Homem Gouveia
  5. Blogosfera
Assista também ao debate televisivo do passado Sábado na RTPN, via YouTube. (neste momento em preparação)

Todos os depoimentos de opinião serão compilados na barra do lado direito da página, de forma a serem facilmente consultados. Não se esqueça de os rever:
(a ordem dos textos apresentada é meramente cronológica)

Amanhã, leia a opinião de:
  1. Pedro Abranches Vasconcelos;
  2. Daniel Fortuna do Couto;
  3. Bernardo Campos Pereira;
  4. E aqueles que nos escreverem entretanto.
Saiba também os resultados da mesa-redonda que aconteceu na passada 3ª feira, via YouTube. (em preparação)

Apelo ao voto III

De novo, apelamos ao voto de todos os membros da Ordem dos Arquitectos.

A decisão do futuro da Direcção da OA é de todos.

VOTE

Recordamos também que:

A razão da repetição das eleições para o CDN da OA prende-se com o facto do Tribunal Administrativo ter dado razão à candidatura da LISTA C quanto à sua injusta exclusão das eleições que aconteceram no dia 18 de Outubro de 2007, deste modo sentenciando a sua anulação. Assim, e depois deste infeliz episódio, estamos agora como devíamos estar desde o início: candidatos a ser eleitos, justa e democraticamente, pelos membros da OA.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Opinião - Pedro Machado Costa

10 razões para não votar no Manuel

Gosto do humor do Manuel. E da falta dele também; mas menos. Não é por isso que vou votar no Manuel. Não se vota por causa do humor. Do nosso ou do do candidato.

Gosto dos projectos do Manuel. Dos mais antigos, prefiro-os àqueles mais recentes. Dos orientais, prefiro-os àqueles mais presentes. E no entanto não é por causa disso que vou votar no Manuel. Não se vota por causa dos projectos. Dos nossos e dos dos outros.

Gosto das histórias do Manuel. E principalmente das estórias do Manuel. Com ou sem agá, com e sem Khan. Não será por causa disso que vou votar no Manuel. Não se votam em histórias, e muito menos em estórias.

Gosto especialmente do semblante do Manuel: um misto de refinamento pouco dado ao institucional com um toque
bourgeois que ele passa o tempo a negar. Nada disso me faria votar no Manuel. O voto, diz-se, é inter classicista (ou seja: para lá do cânone).

Gosto da lógica muito pouco Manuelina do Manuel. Não se vota em ninguém em defesa do estilo, mesmo que seja o último estilo português.

Gosto de viajar com o Manuel. Os atalhos são sempre mais longos do que o caminho normal. Não se vota em atalhos mais longos do que os caminhos normais.

Gosto da exuburância e estranheza das pessoas que normalmente giram em torno do Manuel. A independência deles é tanta que por vezes até não votam no Manuel.

Gosto da arquitectura que o Manuel gosta. Não há qualquer razão em se votar num tipo só porque se gosta da arquitectura que ele gosta.

Gosto da persistência do Manuel. Principalmente quando as coisas são já inúteis. Não se vota em ninguém pela inutilidade da persistência.

Gosto da imponderação do Manuel. Sobretudo porque isso fá-lo dizer o que pensa. Mas não se vota em ninguém por aquilo que pensa.

Ou vota?

Pedro Machado Costa

Opinião - Rogério Gonçalves

Caros amigos e colegas

Com o aproximar das eleições de 6ª feira, a leitura atenta da informação disponibilizada pelas 3 listas e a minha experiência de colaboração, durante alguns anos, na direcção da ordem não tenho dúvidas que irei votar na lista C.

Não sei se vos interessa conhecer a minha opção, mas senti a necessidade de a partilhar, porque continuo a acreditar que a nossa associação tem de ser importante para a nossa vida profissional.

O passado recente não é o que desejamos, e os responsáveis, (na minha modesta opinião) por esse desvirtuamento, estão maioritariamente reunidos na lista A.

A lista C não é perfeita, mas dou-lhe o benefício da dúvida, e espero que esses colegas tenham no futuro a capacidade de ouvir os outros.

Rogério Gonçalves

Opinião - Luís Romão

Investigação vs Prestação de Serviços

A nova sociedade que se caracteriza por ser uma sociedade de informação e do conhecimento muito apregoada como futura é já a sociedade actual em que vivemos. Assim, a importância da ligação entre a profissão e a universidade, como fonte de conhecimento, é um facto adquirido. A Ordem dos Arquitectos, no caso da profissão do arquitecto, tem de estar à altura de estabelecer essa relação mas também de ajudar a demarcar a fronteira, que naturalmente existe, entre as duas instituições. A universidade é lugar de ensino e de investigação e a Ordem é o lugar para apoiar as boas práticas da profissão. A ligação ou a cooperação entre ambas é evidente mas tem que funcionar sem sobreposições.

O que eu gostaria de questionar aqui e de modo muito sumário é a necessidade de aclarar aquela fronteira também em termos muito práticos. Quero dizer, todos denunciamos que o trabalho do arquitecto é hoje desviado para outras categorias profissionais por força do Decreto n.º 73/73, que naquela data fazia algum sentido, mas também é preciso denunciar quando aquele trabalho é muitas vezes desviado para as instituições universitárias mesmo quando esperamos soluções de qualidade diferente.

Na actualidade, verifica-se uma tendência, cada vez maior, para as instituições universitárias angariarem trabalho que pode e deve ser executado no atelier do arquitecto. A necessidade de angariar fundos financeiros nessas instituições tem justificado a criação de uma fronteira muito mal definida entre o que é investigação e o que é a prestação de serviços. Esta fronteira deverá ser um tema a aprofundar no futuro porque podemos aceitar que as universidades quando fazem investigação estejam de facto a prestar serviços que no mercado de facto não existem. E quando assim é não há argumentos.

Por outro lado, mesmo aceitando que estas instituições possam prestar serviços, quaisquer que eles sejam, em vez de fazer investigação, gostaríamos que o fizessem em concorrência aberta. Isto é, que os custos desses trabalhos fossem transparentes, que os equipamentos, as instalações e os recursos humanos fossem devidamente equacionados nos custos.

Assim, a ordem tem a responsabilidade de estar atenta a esta situação da mesma maneira que deve pôr em causa a qualidade dos projectos de arquitectura que não são feitos pelos profissionais da área e o colega Manuel Vicente garante-me mais do que qualquer outro candidato à Ordem de que aquele diálogo sem sobreposições é garantido. É claro que esta posição de separação das águas não impede de que a Ordem possa participar em projectos de investigação, desde que os objectivos desses projectos sejam o apoio das boas práticas da profissão do arquitecto, i.e. de todos os arquitectos.

Luís Romão
(candidato a Presidente do Conselho Fiscal Nacional)

Apelo ao voto II

A partir de hoje, em vez de enviar o seu voto por correspondência, será recomendável dirigir-se às mesas de voto no dia 29. Isto porque à o risco do seu voto não chegar atempadamente ao destinatário e ser invalidado por esse motivo.

Recordamos que, no dia 29 de Fevereiro, poder-se-á votar apenas na sede da Secção Regional Norte e na sede nacional da Ordem dos Arquitectos, em Lisboa.

Não deixe de votar.

VOTE C

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Opinião - Nuno Vidigal

Em defesa do Processo

Foi mais uma vez com grande desânimo que tomei conhecimento da baixa taxa de participação (15,6 %, segundo noticia de 19.10.2007 do site da OASRS) nas últimas eleições de Outubro.

Talvez essa taxa até tenha sido a mais alta de sempre. Não sei e isso pouco me interessou. O que realmente me interessou foi a tomada de consciência de que os restantes 84,4%, ao não expressarem a sua intenção de voto, consideraram que tal não valia o esforço.

Efectivamente, habituámo-nos todos a considerar que a Ordem é um mal necessário obrigatório à nossa actividade profissional e que não serve para mais nada senão para pagar quotas.

Desde há longos anos que assistimos impávidos e serenos à perda de direitos fundamentais no exercício dos actos próprios da nossa profissão, sem que tenhamos conseguido inverter na realidade o rumo dos acontecimentos. Podemos sempre invocar o recorrente discurso miserabilista de que somos poucos e não temos peso na sociedade. Mas hoje já não somos assim tão poucos e há cada vez mais arquitectos a exercerem cargos de decisão em todas as actividades da nossa sociedade.

O facto é que todos nós temos muito poucas expectativas na nossa acção, e em particular na acção da Ordem. Infelizmente, podemos mesmo dizer com alguma ligeireza que nos é indiferente o que a Ordem, e quem a representa, fazem.

Podemos pois ficar todos descansados e a Ordem pode continuar a sua pacata actividade. Cada um vai continuar a resolver os seus problemas à sua maneira, mesmo que isso continue a implicar atropelos éticos e uma crescente divisão da classe. Quantos mais formos, menos nos uniremos e mais nos prejudicaremos.

Ficarmos descansados pode até ser considerado uma decisão sensata, pois todos temos assistido com alegria e orgulho à grande divulgação e promoção da nossa arquitectura. Publicações nacionais e estrangeiras, exposições e feiras, têm divulgado, de uma ou de outra forma, o crescente número de obras de arquitectura de qualidade no nosso país (talvez sejam poucas as obras para tantos e diferentes arquitectos!).

É inquestionável que hoje há bons projectos e boas obras de arquitectura em Portugal, aliás como sempre houve mesmo quando eram poucos arquitectos, o que é questionável e reprovável é o enorme esforço acrescido que todos necessitamos de fazer (hoje mais do que nunca!) durante o Processo que dá origem a essas obras. E se uns têm a força e a disponibilidade individual para lutar e vencer todos os desrespeitos e atropelos à sua actividade, outros não. Esses necessitam de uma acção clara de entre ajuda no seio da classe para levar de vencida as nossas mais diversas adversidades na profissão.

É por isso que nos agrupamos. É para isso que a Ordem existe.

Para que possamos começar a acabar com esta apatia e desânimo generalizado, necessitamos na Ordem de alguém inconformado com a situação actual da classe e da profissão e que, com o apoio de uma equipa coesa, nunca desista na defesa dos nossos direitos e deveres. Neste momento, para mim, esse alguém é o Manuel Vicente.

PS: A repetição das eleições deve-se ao facto do Manuel Vicente ter acreditado que estava a ser injustiçado e ter lutado pelos seus direitos. Queremos melhor exemplo de inconformismo ?

Lisboa, 24 Fevereiro 2008

Nuno Vidigal
(candidato a membro do Conselho Nacional de Delegados)

Debate a três, em Lisboa, confirmado

Debate com os três candidatos a Presidente da OA.
3ª feira, 26 Fevereiro - 21:00
Sede da Ordem dos Arquitectos
Trav. de Carvalho, 21-25
Lisboa
Moderação: Fernanda Pedro

Apelo ao voto

Não deixe de votar. A forma mais cómoda de o fazer é o voto por correspondência. Vote entre hoje e amanhã, de forma que o seu boletim chegue ao destino no prazo estipulado.

VOTE C

Mesa-redonda, hoje, Lisboa

Opinião - José Bruschy

Responsabilidade e Autoria

Para a comunicação social tem sido notícia, nestes últimos tempos, o caso dos projectos do Sr. Engº José Socrates.

No entanto este caso, só foi e é notícia, pelo facto de se tratar do Sr. 1º Ministro. Embora a notícia conte a história que lhe deu origem, ou seja a dos projectos supostamente feitos por técnicos da Câmara Municipal da Guarda, que, por impedimento legal, não podiam assinar os projectos para a sua própria autarquia e que, por isso, pediram a um técnico da Câmara da Covilhã que lhes assinasse os projectos, nada mais é dito.

É no mínimo engraçado, ou melhor, revelador que, para a comunicação social e pelos vistos para o seu público, o importante, seja só e principalmente a questão da troca de favores: “Eu faço o projecto para a minha Câmara e tu assinas. Tu fazes o projecto para a tua Câmara e eu assino”. Isto é o que se passa corrente e generalizadamente há mais de 50 anos e nunca foi notícia!

É preocupante por isso que não seja averiguada a razão da existência desta lei e desta prática e, principalmente, as consequências devastadoras a nível da cultura, da arquitectura, do urbanismo, paisagem urbana, e também da economia e da e na qualidade de vida.

É muito redutor que a todos os níveis incluindo o Parlamento, só se questione o Sr. 1º Ministro sobre se fez, ou não, os projectos divulgados na imprensa.

É que o grave nesta prática, não é quem assina ou fez estes projectos, mas sim as desastrosas consequências daí resultantes:

. A qualidade da arquitectura destes projectos é sempre medíocre, ou muito má, porque estes não são feitos com tempo e um mínimo de conhecimento da matéria, empenho ou “amor”, (como dizia o Arqtº Keil do Amaral); mas sim à “pressa” com o objectivo de obter aprovações rápidas e remunerações atempadas e compensadoras. É aquilo a que se pode chamar “ Arquitectura Regulamentar”.

. Também muitas, muitas vezes, são projectos da autoria de engºs. ou engº técnicos, (como no caso referido) que dizem tratar-se de “projectos de engenharia”.

Acontece que o projecto de um “edifício” é sempre um projecto de “Arquitectura” que obviamente integra os projectos de engenharia de várias especialidades.

Quando assim não é, e se dispensa o arquitecto, a qualidade é o que se sabe e viu nas fotografias dos jornais.

. De facto arquitectura sem arquitectos é de terceiro mundo. Para a boa qualidade dos projectos é necessário, mas não suficiente, a autoria de um arquitecto.

. Igualmente tão importante como a má qualidade dos projectos e suas graves consequências, é a distorção no mercado da encomenda de projectos.

. De facto, hoje em dia, para a maioria dos projectos correntes, que entram nas Câmaras, e que são cerca de 90% de todos os projectos, os requerentes mais frequentes tais como, construtores, empreiteiros, promotores, pequenos e médios empresários e até particulares, não procuram um arquitecto pelo seu mérito, confiança ou até amizade pessoal, mas sim pelos “conhecimentos ou capacidade” que este tem de conseguir uma aprovação rápida e garantida na Câmara A ou B.

José Bruschy
Membro nº270 OA

(candidato a Presidente do Conselho Nacional de Disciplina)

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Opinião - blogosfera II

Hoje, debate a 3, na RTP N

Hoje haverá lugar para um debate com as três candidaturas no espaço notícioso da RTPN (canal 11 TV Cabo) pelas 18 horas. Helena Cruz Lopes será a moderadora.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Opinião - João Santa-Rita

Absolutamente livre.

Conheço o Manuel Vicente já lá vão, certamente, cerca de quarenta anos. Quase tanto tempo como o da minha idade, ou seja, o Manuel Vicente está presente em muitas memórias da minha infância e juventude.

Porque motivo isso é importante para mim? Porque cresci e formei-me próximo do Manuel Vicente e porque mais do que isso tive o grande privilégio de viver e participar da amizade que os unia – o meu pai, José Daniel Santa-Rita e o Manuel Vicente.

Mais tarde, a tudo isso, sucedeu-se a intensa e apaixonante colaboração no atelier de Macau e pontuais colaborações em Lisboa.

Houve momentos em que falhei e que lhe causei certamente mágoa mas nem por isso deixei de acreditar na minha amizade.

O Manuel é daquelas pessoas das quais, quando se gosta, é difícil, muito difícil, manter-mo-nos afastados da sua presença por muito tempo. Porque a sua generosidade e paixão pelo mundo, pelas pessoas e pela arquitectura possui limites quase inatingíveis.

No Manuel tudo se encaminha para uma estranha perfeição, uma imperfeita perfeição, o seu modo de fazer.

Talvez, como diria o meu pai, tenha sido em nome dessa paixão e inigualável dedicação, que muitos formou e educou, que de um modo espontâneo, desejei e insisti nesta candidatura, tal como tantos outros colegas e amigos comuns.

Talvez, (novamente) pela sua dedicação e paixão, se cruzar com a disponibilidade para aceitar a candidatura, criando a meu ver, uma oportunidade única para enfrentar os problemas que se vão sucedendo em torno e dentro da nossa profissão.

A Ordem precisa da sua inquietante visão, saber e do seu envolvimento, suportado pelos muitos que acompanham e acreditam ser possível construir uma Ordem da qual todos, sintam necessidade, vontade de participar e reconheçam a mais-valia da sua existência.

Há muito tempo que mantenho uma posição crítica acerca do modo como a Ordem se tem desenvolvido. Apenas porque não acredito na aceitação passiva dos factos. A Ordem é uma casa fundamental, um pilar essencial para o exercício digno e de qualidade da nossa profissão que nos garanta a segurança no nosso envolvimento com os colegas e com a sociedade.

Acredito como tal, nas possibilidades e virtudes desta lista que de um modo tão natural reúne pessoas, arquitectos, tão distintos na idade, na formação, no modo de fazer arquitectura, mas que acreditam que em torno e com o Manuel Vicente, poderão contribuir para construir uma Ordem, mais próxima de todos, mais isenta e muito mais atenta aos problemas do nosso quotidiano, tornando indispensável a sua existência.

É bom recordar o papel que desempenhou o Colégio dos Arquitectos ou a importância e relevo que possui a recente Arquitectura Holandesa, com base numa gestão e distribuição equilibrada da muita encomenda pública, integrando nesse processo, todos e todas as gerações, não esquecendo obviamente o papel decisivo de alguns autores nesse reconhecimento internacional. Nada acontece por acaso ou só por si.

Tornou-se, pelo menos para mim e para os muitos com os quais vou trocando conversas, muito difícil fazer arquitectura, pelo menos muito mais do que seria desejável.

Não, certamente, pela falta de estímulos, de prazer ou de capacidade de enfrentar os problemas, mas sim pela falta de um enquadramento da profissão claro e mais do que tudo civilizado e ordenado.

Gostava apenas de por uns momentos, acreditar ser possível, compatibilizar e arrumar regulamentação, participar em concursos, que comecem e acabem sem problemas, de encontrar na Ordem o apoio na validação das nossas actividades, quando merecida.

Lembro a propósito de como tudo pode ser menos complicado e tortuoso, um querido colega finlandês, que me confessava: “No meu país até parece que fazer arquitectura não nos dá prazer, falta o estímulo e desafio causado pelos inúmeros problemas, talvez por isso” – diria ele – “se beba tanta vodka”.

E a propósito dos problemas com os quais nos deparamos, recordo recorrentemente, o modo como sempre vi o Manuel Vicente encarar a vida como uma inesgotável fonte de reflexão, criação de vontades e coragem na resolução dos desafios que nos aguardam.

Talvez por tudo isto, apesar dos inúmeros amigos que integram outras listas, não posso deixar de acreditar e apoiar o Manuel Vicente.

João Santa-Rita, sócio n.º 2203

(Candidato a vogal do Conselho Directivo Nacional)

Mesa redonda de ontem

Ficam alguns registos da mesa redonda que aconteceu ontem na Sociedade Nacional de Belas-Artes.

Raúl Hestnes Ferreira, Manuel Vicente, Egas José Vieira e Pedro Ravara.


Momento animado do debate.

Manuel Vicente e Raúl Hestnes Ferreira, encontros e reencontros.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Opinião - blogosfera

Frescas reacções, da blogosfera:

Dia 29 de Fevereiro. Um dia esdrúxulo. Uma belíssima ocasião para elegermos Manuel Vicente presidente.

Lourenço Cordeiro



Em Manuel Vicente é a liberdade e a possibilidade que ordenam o discurso. A ordem contingente do mundo, das coisas, é pretexto e motivo para a descoberta do próprio mundo. A liberdade e o uso da liberdade é a inclusão da contingência na palavra a na acção. Dela extrair sentidos, ou não, e em consequência da responsabilidade da liberdade, produzir novos significados para o mundo e para a existência.

É por isto que a arquitectura é para Manuel Vicente um acto de produção cultural. Não mera junção, justaposição, sobreposição de Dec. Lei, regras, planos, técnicas, pensamentos. Será tudo isto, incorporado a priori no que é um pensamento arquitectónico, feito de arquitectura, feito de amor às coisas terrenas, profanas, numa tentativa indizível de alcançar o sagrado. O deus que se esconde nas pequenas coisas. Numa luz inclinada, numa parede pintada, numa caixilharia de alumínio anodizado, que, pela manipulação, a podemos tornar um pouco mais que uma caixilharia de alumínio anodizado igual às outras todas da Segunda Circular.

É nessa liberdade, de que são inclusos o riso, a ironia, a irrisão, que aguça a nossa percepção de nós mesmos e nos situa no sítio das coisas do mundo. E em que a arquitectura é quase uma ontologia de existência.

Colaborei com Manuel Vicente durante um ano. Foi a época mais marcante da minha formação. Numa espécie de complexo de Édipo, ainda hoje, a cada linha, cada folha de papel, suspeito que resida alguma ansiedade de lhe fazer jus. De, pela arquitectura, chegar a poder ser tão homem quanto está ao nosso alcance ser.
Voto Manuel Vicente.

João Amaro Correia

Sessão Vídeo com Manuel Vicente - A Ordem e a defesa da Arquitectura



Opinião - Egas José Vieira

Das capacidades da Arquitectura

Passei as últimas três semanas, no atelier, a ouvir em fundo a voz do Arqtº Manuel Vicente, distorcida pelo som de um gravador.

É uma entrevista que o meu sócio, MGD, lhe fez e que a nossa secretária pacientemente vai transcrevendo.

Das muitas frases e ideias, uma prendeu-me a atenção:

“(...) outra vez a imagem do Metropolis: imagina o terrível viaduto do Campo Grande, que deve ser um dos mais feios e mais infelizes que há, imagina que se envolve aquilo em arquitectura; provavelmente cria-se um sítio deslumbrante, não só para quem passa no viaduto como para quem vivesse na tal arquitectura.”

Haverá maior optimismo e esperança nas capacidades da Arquitectura?


Egas José Vieira

(candidato ao Conselho Nacional de Delegados)


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sessão Vídeo com Manuel Vicente



Recomendamos vivamente no YouTube:

Opinião - Raúl Hestnes Ferreira

PORQUE APOIO MANUEL VICENTE

Sondado para participar na Lista presidida por Manuel Vicente, concorrente à Ordem dos Arquitectos, imediatamente disse que sim!

Numa Assembleia Geral de triste memória da então Associação dos Arquitectos Portugueses, contribuí com um documento sobre Direitos de Autor que os dirigentes de então, com um vanguardismo que excluía outras participações, ignoraram. Resolvi, por inútil, não mais participar nesses trabalhos.

Custou-me um pouco porque desde jovem intervinha, com estudantes da geração do Manuel Vicente, um pouco mais nova, nos encontros do então Sindicato dos Arquitectos, onde estavam nomes prestigiados da arquitectura portuguesa da época.

Após o 25 de Abril foi com emoção que fui eleito com outros colegas para a Direcção que substituiu o Sindicato por uma Associação - herdeira da existente antes da ditadura - reformulando o organismo profissional.

Essas antigas memórias não estiveram ausentes da minha escolha actual, pois conheço o Manuel Vicente desde sempre e, para além da pessoa, do arquitecto e do professor também muito admiro a sua intervenção cívica e no âmbito da organização profissional da arquitectura.

Personalidade complexa e aberta, na sua visão do mundo e da arquitectura, o Manuel alia um temperamento crítico ao pragmatismo e à imaginação que inspira quem com ele colabora, não ignorando os aspectos sociais e de justiça com base numa visão humanística e de amor pelo que o rodeia e motiva (o trivia tão marcante no seu modo de ser e na sua arquitectura).

Quando das eleições do primeiro mandato de Helena Roseta, fui convidado a apoiá-la, o que fiz por me aperceber que, enfim, essa lista C permitiria a intervenção de uma nova geração de arquitectos interessados em alterar um status-quo que se arrastava há anos.

Olhando agora para as listas a concurso nessas eleições de 2002 (que, por milagre, não sei como, me apareceram agora), lá estão na lista A “favorita”, em grande número, nomes reconhecidos da arquitectura portuguesa (com alguns dos meus grandes amigos!) estando outros também na C da Helena Roseta, convivendo com os ainda desconhecidos na altura. Mas a verdade é que a C, dos underdogs, ganhou!

E agora o que temos em comum o Manuel, eu e outros membros e apoiantes da lista C?

Na minha visão, sobretudo privilegiar o exercício da arquitectura e a sua organização “a partir de dentro” participando com os arquitectos que exercem ou gostariam de exercer a arquitectura, mas que um mercado de trabalho condicionado não permite, criar os meios de facultar aos profissionais da arquitectura, prestigiados ou não, o exercício da profissão e ainda democratizar a divulgação do seu trabalho para o exterior.

Lembro-me de, quando estive na Finlândia, me aperceber que a arquitectura finlandesa se tinha renovado qualitativamente, após a 2ª Guerra Mundial, em parte pela actuação do órgão profissional que interveio na reedificação do país com várias iniciativas de valorização da sua acção, incluindo a organização de Ficheiros de Materiais normalizados, abertos à contribuição de fabricantes e representantes de materiais. Todas as obras estatais ou municipais tinham por base concursos de regras claras, definidas pelo seu órgão representativo. A divulgação das obras de arquitectos mais e menos conhecidos, processava-se através de uma pequena revista, vendida ao público com preço acessível.

Sendo importante, sem dúvida, contribuir para uma correcta legislação que reconheça o papel do arquitecto, a organização interna profissional não o é menos, desde que aberta à contribuição de arquitectos de todas as gerações e pontos do país.

Para esse objectivo estou convicto que o Manuel Vicente e a sua equipa, pela sua abertura democrática e não selectiva e pelo realismo da sua acção, são os mais aptos para dirigir a Ordem no próximo mandato.


Raúl Hestnes Ferreira
(candidato a Presidente da Mesa da Assembleia-Geral)