quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Conversa falada sobre a OA - Manuel Vicente

Uma Ordem mais atenta às necessidades dos associados

O primeiro ponto é fixar que a Ordem deve servir para “alguma coisa”: na nossa perspectiva é bastante claro que deve ser uma entidade capaz de fornecer serviços aos seus associados. A evolução “legalista” e burocrática do exercício da profissão exige que a Ordem possa funcionar como uma espécie de plataforma de apoio. Por exemplo, as solicitações de seguros e garantias bancárias inibem muitas vezes a participação de ateliers de menor dimensão em concursos. E não falamos somente de apoios aos mais jovens, mas também de arquitectos que possuem estruturas profissionais menos competitivas. A Ordem poderia ser aqui mais actuante, servindo de intermediária, negociando com os universos financeiro e segurador de forma a encontrar modelos ajustados à prática da profissão; poderia também ser intermediária de empréstimos bancários prestados a novos ateliers ou ao estabelecimentos de novos locais de trabalho.

Descentralização

A Ordem deve trabalhar directamente com as Associações de Municípios que são estruturas mais orgânicas que a estrutura administrativa do território. Estas associações têm uma visão mais clara das realidades locais, possuem independência de acção, estão receptivas a contactos informais, parcerias, protocolos, convénios que muitas vezes não passam pela burocracia estatal. Há nestes universos mais locais, sinergias que passam pelas relações pessoais, reflectindo-se em relações mais transparentes que aproximam as pessoas e as práticas: relacionando as necessidades reais do campo da prática profissional.

Devemos tornar a organização da Ordem uma entidade menos longínqua e menos abstracta para os associados e para a sociedade, transformando-a numa coisa mais concreta, com “cara”. Neste contexto, é importante aproveitar as sinergias de quem dá “a cara” e aqui falamos obviamente dos Núcleos. Pensamos que deverão ser feitas alterações na Ordem a nível estatutário que reformem a estrutura actual.

Não faz sentido existir apenas duas organizações regionais – e penso mesmo, correndo o risco de ser polémico, que deveriam sair dos núcleos as direcções das delegações regionais. É necessário olhar para o país e para o que “resta” da regionalização e perceber que todas essas regiões (novas) necessitam de uma delegação. É despropositado que a gestão administrativa da Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos, por exemplo, compreenda o Algarve, e menos ainda, os Açores e a Madeira.

Formação Contínua

A Ordem dos Arquitectos tem investido na promoção cultural de uma forma que as outras Ordens – caso dos Advogados ou dos Médicos, por exemplo – não fazem. A preocupação maior que a Ordem deveria ter, aquela que imagino como mais progressiva e futurante, é a que toca na questão fundamental da formação contínua. É importante estabelecer protocolos com as universidades para garantir horários pós laborais para actos de formação continua, ultrapassado desta forma o sentido um pouco amador que parece enquadrar este serviço. A profissionalização da formação contínua é um passo essencial.

Outro aspecto importante prende-se com a existência de formações que são transdisciplinares e que se podem articular com outras ordens profissionais. A formação contínua deve ser próxima das necessidades da prática, articulando todos os intervenientes no processo de edificação.

Uma coisa que parece interessante é, por exemplo, perceber o sentido do estatuto da Ordem dos Advogados que impede um advogado de empregar outro advogado, levando assim à criação de associações de advogados. Acho bastante positivo que se caminhasse nesta direcção também entra a classe dos arquitectos e que, progressivamente, existissem sociedades de arquitectos porque os problemas da autoria, da responsabilidade profissional, ficariam mais clarificados.

Criatividade

Portugal tem vivido recentemente dinâmicas de integralismo em todos os sectores da sociedade – há um nivelamento, um denominador comum que, em parte, justifica a falta aparente de criatividade que a nossa sociedade apresenta. Há alguns casos – jovens maioritariamente – que conseguem fugir a este modo de estar, ou de ser, e que são aquelas pessoas que inventam coisas e avançam. É engraçado ver que essa gente vem de profissões com alguma marginalidade: não cresceram integradas em sistemas de carreira ou de visibilidade profissional e, talvez por isso, acabam por ser o único sector criativo da sociedade portuguesa.

Gerações

Sinto por vezes que faço parte de uma espécie em vias de extinção e esta é uma das razões que também me motiva a concorrer a Presidente da Ordem. Porque acho que há um testemunho a passar e que a nossa geração ainda pode fazer a ponte entre toda a rica tradição da arquitectura como elemento transformador, por via artística, da sociedade, dos estilos, dos gostos, das percepções do corpo, do enriquecimento do quotidiano e da construção de significado… O que parece importante é não deixar que tudo desapareça sem existir uma alternativa que vanha a pena – porque aqui não é exactamente uma questão de transformação, mas uma questão de desaparecimento.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabens pela vitoria!

Esperamos que cumpram o prometido. Menos conversa e mais acção é aquilo que a Ordem precisa.

O que me assustou na Lista C é o facto do Arq. Manuel Vicente gostar muito de falar e ter tanta gente atrás dele.

Espero que haja muito vinho nos próximos tempos...

Ricardo Mota