quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Opinião - Pedro Homem de Gouveia

Promessas, leva-as o vento

Já tornei públicas, há bastante tempo, as minhas ideias sobre a Ordem.

Considero que o apoio à prática deve ser a prioridade, e que é por aqui que a Ordem pode de facto prestigiar a profissão e recuperar a credibilidade que perdeu junto dos seus membros.

Considero que a formação contínua é um dever da Ordem para com a sociedade e um direito dos seus membros, e que não pode a Ordem continuar a organizá-la apenas em Lisboa, e a vê-la sobretudo como fonte de lucro.

Considero que em matéria de disciplina a Ordem deve ter uma intervenção ao mesmo tempo preventiva e pró-activa. Preventiva – fazendo tudo o que estiver ao seu alcance para proporcionar aos seus membros condições para que estes cumpram com as suas obrigações. Pró-activa – não esperando pelas queixas, e sobretudo não calando os protestos que se impõem só para não deixar de receber apoios do Estado. A Ordem tem uma fonte de receita segura – as quotas dos membros. Não tem desculpa para estar calada.

Considero que relativamente aos concursos a Ordem deve assumir, de uma vez por todas, que a igualdade de oportunidades no acesso à encomenda pública é um dever do Estado e um direito dos profissionais. E tem de dizê-lo de forma clara, sem ambiguidades, todos os dias – mesmo que isso prejudique os interesses individuais de alguns dos seus membros.

Considero que a Ordem não pode assobiar para o lado no que toca a honorários, e que apesar das limitações impostas pela legislação europeia, há um importante contributo a dar.

Considero que nas actuais condições, os estagiários estão a ser forçados a cumprir um “serviço militar obrigatório” que não garante nada, e que só beneficia quem já está instalado e pode beneficiar do seu trabalho gratuito. Pode não ser clara, ainda, a solução – mas é claro o problema, e a Ordem deve começar por reconhecê-lo.

Considero que a descentralização é um imperativo para a Ordem, e que essa descentralização deve ser o mais profunda possível, pode passar pela criação de novas secções regionais, e deve ser conduzida, principalmente, pelas delegações e núcleos já existentes.

Estas opiniões podem não coincidir em tudo com as do Manuel Vicente e da restante Lista C, que integro.

Isso não me preocupa – olho para as restantes listas, leio os folhetos, e vejo a mesma ambiguidade e conversa redonda que já vi noutras eleições.

Precisamos de clarificação. Mas não é de clarificação relativamente a chapeladas eleitorais – essa, já a deu o Tribunal.

Precisamos de clarificação relativamente a prioridades.

Porque na hora da verdade sabemos que quem estiver na Ordem vai ter de escolher entre contratar técnicos para melhorar o apoio à prática… ou para fazer a Trienal.

Entre pagar as deslocações à Madeira e Açores de membros do Conselho de Disciplina, para audições, ou as deslocações a Lisboa de estrelas, para conferências…. na Trienal.

Entre realizar acções de formação descentralizadas pelo País, a baixo custo, ou montar de exposições em Lisboa… para a Trienal.

Entre tomar posições públicas claras contra câmaras que não fazem concursos, violam PDM’s, perseguem arquitectos, ou fazer de conta que não se passa nada, para que subsidiem… a Trienal.

Fazer programas muito estruturados, com muitas medidas, tem o seu interesse, mas um alcance limitado. Já ajudei a fazer um – e depois vi como, na hora da verdade, foi esquecido. Bastou haver alguém a acenar com uns brilhos, a tocar uma flauta, e seguiram todos atrás. Promessas, leva-as o vento.

Princípios claros e escolhas concretas, precisam-se. Não acredito em programas que prometem o sol na eira e a chuva no nabal.


Pedro Homem de Gouveia
(8039 S)
(candidato a vogal do Conselho Directivo Nacional)

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