quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Opinião - Paulo Pais

Conectar-se à rede, votar C.

Esta candidatura, protagonizada pelo Manuel Vicente, constitui um traço de esperança, um grito de inconformismo, uma pincelada de cor numa paisagem cinzenta, dominada pela crise de representação dos arquitectos na sua organização profissional, por uma incerteza sobre o futuro do território da Arquitectura.

Para muitos arquitectos a Ordem é vista como mais uma instituição do Estado; um guiché por onde é necessário passar para se ver reconhecido o título profissional. Para esse afastamento tem concorrido a tradicional disputa entre dois grupos distintos que mobilizam os respectivos peões no controlo do centro do tabuleiro do poder na Ordem.

Os representantes do “Star System” olham para a Ordem como máquina de promoção pessoal e de projecção de carreiras, sobre o pretexto de uma pretensa actividade cultural.

O segundo grupo é constituído pelos representantes dos Ateliers com estrutura empresarial. Caracterizam-se por apresentar um discurso político mais estruturado e visam, sempre, em nome de um dito “interesse do consumidor”, a imposição de regulamentação do mercado profissional que, na prática, torna o acesso à encomenda quase impossível aos pequenos ateliers e, consequentemente, a quem chega de novo à profissão.

Essa tradicional disputa de influência tem contribuído para asfixiar o debate democrático na Ordem dos Arquitectos e a respectiva projecção na Sociedade Portuguesa.

A candidatura da Lista C representa um esforço de recentrar a atenção sobre os temas essenciais, em jogo nestas eleições: a credibilização da Ordem e a consequente afirmação pública do Direito à Arquitectura.

A credibilização da Ordem passa, em primeiro lugar, pelo reforço do seu vínculo com os associados, reforçando os espaços de participação, o apoio à prática profissional e uma atenção redobrada à pluralidade de modos de exercício.

Em segundo lugar, a credibilização da Ordem depende da sua aproximação às diversas realidades locais e regionais, através de uma política efectiva de descentralização, no sentido de promover a equidade no apoio prática profissional, na promoção do debate sobre as opções de ordenamento e desenvolvimento territorial, e numa afirmação da Arquitectura enquanto recurso cultural de afirmação de identidade.


Paulo Prazeres Pais
(candidato ao Conselho Nacional de Delegados pela lista C)

2 comentários:

Pedro Homem de Gouveia disse...

Bravo - pela síntese, pela disponibilidade de sempre para o combate, e pelo excelente trabalho feito à frente da Secção Regional Sul, (2002-2004)cujo desvirtuamento pelos seguintes foi lamentável.

Anónimo disse...

Ora aqui está a primeira análise que, de facto, estabelece quais as diferenças entre as três candidaturas.

Os meus parabéns pela tão brilhante pertinência.

Filipe Santos