sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Opinião - João Santa-Rita

Absolutamente livre.

Conheço o Manuel Vicente já lá vão, certamente, cerca de quarenta anos. Quase tanto tempo como o da minha idade, ou seja, o Manuel Vicente está presente em muitas memórias da minha infância e juventude.

Porque motivo isso é importante para mim? Porque cresci e formei-me próximo do Manuel Vicente e porque mais do que isso tive o grande privilégio de viver e participar da amizade que os unia – o meu pai, José Daniel Santa-Rita e o Manuel Vicente.

Mais tarde, a tudo isso, sucedeu-se a intensa e apaixonante colaboração no atelier de Macau e pontuais colaborações em Lisboa.

Houve momentos em que falhei e que lhe causei certamente mágoa mas nem por isso deixei de acreditar na minha amizade.

O Manuel é daquelas pessoas das quais, quando se gosta, é difícil, muito difícil, manter-mo-nos afastados da sua presença por muito tempo. Porque a sua generosidade e paixão pelo mundo, pelas pessoas e pela arquitectura possui limites quase inatingíveis.

No Manuel tudo se encaminha para uma estranha perfeição, uma imperfeita perfeição, o seu modo de fazer.

Talvez, como diria o meu pai, tenha sido em nome dessa paixão e inigualável dedicação, que muitos formou e educou, que de um modo espontâneo, desejei e insisti nesta candidatura, tal como tantos outros colegas e amigos comuns.

Talvez, (novamente) pela sua dedicação e paixão, se cruzar com a disponibilidade para aceitar a candidatura, criando a meu ver, uma oportunidade única para enfrentar os problemas que se vão sucedendo em torno e dentro da nossa profissão.

A Ordem precisa da sua inquietante visão, saber e do seu envolvimento, suportado pelos muitos que acompanham e acreditam ser possível construir uma Ordem da qual todos, sintam necessidade, vontade de participar e reconheçam a mais-valia da sua existência.

Há muito tempo que mantenho uma posição crítica acerca do modo como a Ordem se tem desenvolvido. Apenas porque não acredito na aceitação passiva dos factos. A Ordem é uma casa fundamental, um pilar essencial para o exercício digno e de qualidade da nossa profissão que nos garanta a segurança no nosso envolvimento com os colegas e com a sociedade.

Acredito como tal, nas possibilidades e virtudes desta lista que de um modo tão natural reúne pessoas, arquitectos, tão distintos na idade, na formação, no modo de fazer arquitectura, mas que acreditam que em torno e com o Manuel Vicente, poderão contribuir para construir uma Ordem, mais próxima de todos, mais isenta e muito mais atenta aos problemas do nosso quotidiano, tornando indispensável a sua existência.

É bom recordar o papel que desempenhou o Colégio dos Arquitectos ou a importância e relevo que possui a recente Arquitectura Holandesa, com base numa gestão e distribuição equilibrada da muita encomenda pública, integrando nesse processo, todos e todas as gerações, não esquecendo obviamente o papel decisivo de alguns autores nesse reconhecimento internacional. Nada acontece por acaso ou só por si.

Tornou-se, pelo menos para mim e para os muitos com os quais vou trocando conversas, muito difícil fazer arquitectura, pelo menos muito mais do que seria desejável.

Não, certamente, pela falta de estímulos, de prazer ou de capacidade de enfrentar os problemas, mas sim pela falta de um enquadramento da profissão claro e mais do que tudo civilizado e ordenado.

Gostava apenas de por uns momentos, acreditar ser possível, compatibilizar e arrumar regulamentação, participar em concursos, que comecem e acabem sem problemas, de encontrar na Ordem o apoio na validação das nossas actividades, quando merecida.

Lembro a propósito de como tudo pode ser menos complicado e tortuoso, um querido colega finlandês, que me confessava: “No meu país até parece que fazer arquitectura não nos dá prazer, falta o estímulo e desafio causado pelos inúmeros problemas, talvez por isso” – diria ele – “se beba tanta vodka”.

E a propósito dos problemas com os quais nos deparamos, recordo recorrentemente, o modo como sempre vi o Manuel Vicente encarar a vida como uma inesgotável fonte de reflexão, criação de vontades e coragem na resolução dos desafios que nos aguardam.

Talvez por tudo isto, apesar dos inúmeros amigos que integram outras listas, não posso deixar de acreditar e apoiar o Manuel Vicente.

João Santa-Rita, sócio n.º 2203

(Candidato a vogal do Conselho Directivo Nacional)

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