segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Opinião - José Bruschy

Responsabilidade e Autoria

Para a comunicação social tem sido notícia, nestes últimos tempos, o caso dos projectos do Sr. Engº José Socrates.

No entanto este caso, só foi e é notícia, pelo facto de se tratar do Sr. 1º Ministro. Embora a notícia conte a história que lhe deu origem, ou seja a dos projectos supostamente feitos por técnicos da Câmara Municipal da Guarda, que, por impedimento legal, não podiam assinar os projectos para a sua própria autarquia e que, por isso, pediram a um técnico da Câmara da Covilhã que lhes assinasse os projectos, nada mais é dito.

É no mínimo engraçado, ou melhor, revelador que, para a comunicação social e pelos vistos para o seu público, o importante, seja só e principalmente a questão da troca de favores: “Eu faço o projecto para a minha Câmara e tu assinas. Tu fazes o projecto para a tua Câmara e eu assino”. Isto é o que se passa corrente e generalizadamente há mais de 50 anos e nunca foi notícia!

É preocupante por isso que não seja averiguada a razão da existência desta lei e desta prática e, principalmente, as consequências devastadoras a nível da cultura, da arquitectura, do urbanismo, paisagem urbana, e também da economia e da e na qualidade de vida.

É muito redutor que a todos os níveis incluindo o Parlamento, só se questione o Sr. 1º Ministro sobre se fez, ou não, os projectos divulgados na imprensa.

É que o grave nesta prática, não é quem assina ou fez estes projectos, mas sim as desastrosas consequências daí resultantes:

. A qualidade da arquitectura destes projectos é sempre medíocre, ou muito má, porque estes não são feitos com tempo e um mínimo de conhecimento da matéria, empenho ou “amor”, (como dizia o Arqtº Keil do Amaral); mas sim à “pressa” com o objectivo de obter aprovações rápidas e remunerações atempadas e compensadoras. É aquilo a que se pode chamar “ Arquitectura Regulamentar”.

. Também muitas, muitas vezes, são projectos da autoria de engºs. ou engº técnicos, (como no caso referido) que dizem tratar-se de “projectos de engenharia”.

Acontece que o projecto de um “edifício” é sempre um projecto de “Arquitectura” que obviamente integra os projectos de engenharia de várias especialidades.

Quando assim não é, e se dispensa o arquitecto, a qualidade é o que se sabe e viu nas fotografias dos jornais.

. De facto arquitectura sem arquitectos é de terceiro mundo. Para a boa qualidade dos projectos é necessário, mas não suficiente, a autoria de um arquitecto.

. Igualmente tão importante como a má qualidade dos projectos e suas graves consequências, é a distorção no mercado da encomenda de projectos.

. De facto, hoje em dia, para a maioria dos projectos correntes, que entram nas Câmaras, e que são cerca de 90% de todos os projectos, os requerentes mais frequentes tais como, construtores, empreiteiros, promotores, pequenos e médios empresários e até particulares, não procuram um arquitecto pelo seu mérito, confiança ou até amizade pessoal, mas sim pelos “conhecimentos ou capacidade” que este tem de conseguir uma aprovação rápida e garantida na Câmara A ou B.

José Bruschy
Membro nº270 OA

(candidato a Presidente do Conselho Nacional de Disciplina)

4 comentários:

Anónimo disse...

E a Ordem, num extremo oposto, tão preocupada com as publicações de arquitectura, com os prémios e com os "nomes" (inquestionáveis) do costume, nada disse publicamente sobre o assunto.

Chiuuu... Presidente politicamente correcto

Anónimo disse...

Bravo!

Anónimo disse...

Quero mais! O assunto é pouco explorado. Porquê?

LISTA C disse...

Caro anónimo,
as suas preces foram ouvidas. Já se encontra publicado um texto de desenvolvimento desta matéria, facultado pelo mesmo autor: José Bruschy.