quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Opinião - Raúl Hestnes Ferreira

PORQUE APOIO MANUEL VICENTE

Sondado para participar na Lista presidida por Manuel Vicente, concorrente à Ordem dos Arquitectos, imediatamente disse que sim!

Numa Assembleia Geral de triste memória da então Associação dos Arquitectos Portugueses, contribuí com um documento sobre Direitos de Autor que os dirigentes de então, com um vanguardismo que excluía outras participações, ignoraram. Resolvi, por inútil, não mais participar nesses trabalhos.

Custou-me um pouco porque desde jovem intervinha, com estudantes da geração do Manuel Vicente, um pouco mais nova, nos encontros do então Sindicato dos Arquitectos, onde estavam nomes prestigiados da arquitectura portuguesa da época.

Após o 25 de Abril foi com emoção que fui eleito com outros colegas para a Direcção que substituiu o Sindicato por uma Associação - herdeira da existente antes da ditadura - reformulando o organismo profissional.

Essas antigas memórias não estiveram ausentes da minha escolha actual, pois conheço o Manuel Vicente desde sempre e, para além da pessoa, do arquitecto e do professor também muito admiro a sua intervenção cívica e no âmbito da organização profissional da arquitectura.

Personalidade complexa e aberta, na sua visão do mundo e da arquitectura, o Manuel alia um temperamento crítico ao pragmatismo e à imaginação que inspira quem com ele colabora, não ignorando os aspectos sociais e de justiça com base numa visão humanística e de amor pelo que o rodeia e motiva (o trivia tão marcante no seu modo de ser e na sua arquitectura).

Quando das eleições do primeiro mandato de Helena Roseta, fui convidado a apoiá-la, o que fiz por me aperceber que, enfim, essa lista C permitiria a intervenção de uma nova geração de arquitectos interessados em alterar um status-quo que se arrastava há anos.

Olhando agora para as listas a concurso nessas eleições de 2002 (que, por milagre, não sei como, me apareceram agora), lá estão na lista A “favorita”, em grande número, nomes reconhecidos da arquitectura portuguesa (com alguns dos meus grandes amigos!) estando outros também na C da Helena Roseta, convivendo com os ainda desconhecidos na altura. Mas a verdade é que a C, dos underdogs, ganhou!

E agora o que temos em comum o Manuel, eu e outros membros e apoiantes da lista C?

Na minha visão, sobretudo privilegiar o exercício da arquitectura e a sua organização “a partir de dentro” participando com os arquitectos que exercem ou gostariam de exercer a arquitectura, mas que um mercado de trabalho condicionado não permite, criar os meios de facultar aos profissionais da arquitectura, prestigiados ou não, o exercício da profissão e ainda democratizar a divulgação do seu trabalho para o exterior.

Lembro-me de, quando estive na Finlândia, me aperceber que a arquitectura finlandesa se tinha renovado qualitativamente, após a 2ª Guerra Mundial, em parte pela actuação do órgão profissional que interveio na reedificação do país com várias iniciativas de valorização da sua acção, incluindo a organização de Ficheiros de Materiais normalizados, abertos à contribuição de fabricantes e representantes de materiais. Todas as obras estatais ou municipais tinham por base concursos de regras claras, definidas pelo seu órgão representativo. A divulgação das obras de arquitectos mais e menos conhecidos, processava-se através de uma pequena revista, vendida ao público com preço acessível.

Sendo importante, sem dúvida, contribuir para uma correcta legislação que reconheça o papel do arquitecto, a organização interna profissional não o é menos, desde que aberta à contribuição de arquitectos de todas as gerações e pontos do país.

Para esse objectivo estou convicto que o Manuel Vicente e a sua equipa, pela sua abertura democrática e não selectiva e pelo realismo da sua acção, são os mais aptos para dirigir a Ordem no próximo mandato.


Raúl Hestnes Ferreira
(candidato a Presidente da Mesa da Assembleia-Geral)

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